Laura

Laura

domingo, 31 de outubro de 2010

Dois Poemas de Maiakovski

                         Dedução

Não acabarão nunca com o amor,
nem as rusgas,
nem a distância.
Está provado,
pensado,
verificado.
Aqui levanto solene
minha estrofe de mil dedos
e faço o juramento:
Amo
firme,
fiel
e verdadeiramente.


BLUSA FÁTUA
Costurarei calças pretas
com o veludo da minha garganta
e uma blusa amarela com três metros de poente.
pela Niévski do mundo, como criança grande,
andarei, donjuan, com ar de dândi.
Que a terra gema em sua mole indolência:
"Não viole o verde de as minhas primaveras!"
Mostrando os dentes, rirei ao sol com insolência:
"No asfalto liso hei de rolar as rimas veras!"
Não sei se é porque o céu é azul celeste
e a terra, amante, me estende as mãos ardentes
que eu faço versos alegres como marionetes
e afiados e precisos como palitar dentes!
Fêmeas, gamadas em minha carne, e esta
garota que me olha com amor de gêmea,
cubram-me de sorrisos, que eu, poeta,
com flores os bordarei na blusa cor de gema!

.

                                                                                                                         

Um Tiro no Escuro

Atire no Pianista

O clássico noir “Atire no Pianista”(Down There) conta a história de Eddie, que vem de uma família notoriamente de marginais e busca escapar de seu destino; após uma temporada no Carneggie Hall e uma tragédia que marcou sua vida, o suicídio de sua mulher, sente uma guinada em sua vida; o retorno de fantasmas do passado que parecem levá-lo de volta ao seu fado inevitável. Com ares de suspense, mistério e muita ironia, Atire no Pianista, leva Eddie, ao lado de mulheres, também misteriosas, como Lena, a garçonete e Clarice, a eventual prostituta, a mergulhar em um mundo sórdido, violento.  
O norte-americano David Goodis (1917-1967), um dos mestres da literatura noir ao lado de Dashiell Hammett, Raymond Chandler, Chester Himes e Ross Macdonald, retrata com fidelidade, de forma seca e precisa, o ambiente sórdido das ruas de Filadélfia, o sofrimento dos que sofrem na pele, e na alma, a miséria humana dos marginaismarginais, dos esquecidos, dos que perderam a esperança do eterno sonho americano. Um enredo direto e repleto de segredos, mistérios e tentações dos desalmados, levando o leitor a ler com avidez as páginas deste romance conciso e direto que revela o lado escuro do medo, das paixões, do destino, sob uma escrita crua, um lirismo seco e comedido e uma narrativa linear, sem frescura, constrói nesta obra, como em todos os seus livros, tramas complexas, personagens duros e solitários, em uma atmosfera densa, sufocante e decadente, tudo ilustrado com um humor negro refinado, muito próximo dos grandes roteiristas, sobretudo em seus diálogos, além de um final surpreendente.. Não à toa, Goodis trabalhou em roteiros para filmes noir, como na própria produção francesa de “Atire no Pianista” (Tirez sur le Pianiste), dirigida por Truffaut, com Charles Aznavour, no papel central, um grande sucesso da Nouvelle Vague, Goodis ainda escreveu roteiros para filmes clássicos, como “A Dama do Lago” e a série “O Fugitivo”. 
O enredo simples e vertiginoso de “Atire no Pianista” tornou esta obra célebre e considerada a melhor de Goodis, uma leitura da miséria humana e do ambiente marginalizado, sombrio, solitário e triste em que decorrem as melhores histórias policiais, na literatura e no cinema noir.

No Cinema, podemos conferir Atire no Pianista (Shoot the Piano Player) na nouvelle vague, Atire no Pianista  (Tirez sur Le Pianiste – 1960), com direção de François Truffaut, roteiro do próprio David Goodis e um elenco forte com Charles Aznavour, Marie Dubois, Nicole Berger, Albert Rémy, Claude Mansard, Richard Kanayan, Daniel Boulanger, Michèle Mercier, Serge Davri, Jean-Jacques Aslanian.

Prof. Marcelo Monteiro  









O Pensamento Livre de Rousseau

Contradições entre Rousseau e o Iluminismo

O século XVIII foi um período marcado por uma grande efervescência, em diversos campos, da política, da religião, da cultura, social e econômica, com a Europa vivendo dicotomias governamentais, e os intelectuais buscando revelar a predominância da razão sobre as ações humanas, destacando a liberdade do indivíduo e o antropocentrismo.
O iluminista Rousseau, no entanto, fazia valer, ainda, a predominância da emoção, o valor do amor e da natureza, em sua obra “Luíza”, cujo título original é “Carta de Dois Amantes, habitantes de uma pequena vila até os pés dos Alpes”, depois, renomeado para “Julie”, ou a Novela Heloísa”.
Jean Jacques Rousseau (1712-1778), filósofo, sociólogo e pedagogo, nasceu em Genebra e teve uma influência importante na Revolução Francesa e no Iluminismo. Em sua crítica a alguns pontos do Iluminismo alcança a burguesia e a propriedade privada, como ele destaca em “O Discurso Sobre a Origem da Desigualdade”, no qual, em certo povo, ele afirma: “O primeiro cercou um terreno, advertindo: ' este é meu ' e encontrando gente muito simples, que acreditou, foi o verdadeiro fundador da sociedade civil (...) se tivesse gritado aos seus semelhantes: não escutem esse impostor; vocês estarão pedidos se esquecerem que os frutos são de todos, que a terra não é de ninguém.”
Rousseau critica, desta forma, o progresso inevitável, com resultados permanentes, que não permitiriam à sociedade se 5edimir, no que ele estava completamente certo, porém, defende a vontade geral, o comportamento geral justo, situando-os acima das vontades individuais, que tendem ao egoísmo, defendendo tal pensamento em sua obra “O Contrato Social”.
Ao criticar o racionalismo exacerbado dos iluministas, Rousseau revela os valores do homem natural, convertidos pelo meio social, prenhe de corrupções, vícios e maldades.
Trocando em miúdos, Rousseau determina que a libertação do homem se faz com os ideais de um Estado democrático, pautado nos desejos dos cidadãos para que não se corrompa o homem por uma sociedade que pode se tornar legítima pela vontade geral do povo, da qual emana o poder, criticando a realeza, a monarquia, absolutistas, egoístas e ditatoriais.
Tudo isso não torna Rousseau um inimigo da intelectualidade, da razão e do desenvolvimento, nem mesmo, um combatente da religião, apenas um defensor de que o homem é mais do que intelecto, é emoção, com a condição natural do homem precedendo seu Caráter livresco, o que garante sua formação moral, antes e acima de tudo.
Para Rousseau, o homem alcança sua liberdade moral, após adquirir seu estado civil, liberdade que lhe permite tomar decisões e comandar o próprio destino, dentro das normas legais da sociedade, por meio de um pacto social. O homem pode ser, verdadeiramente, senhor de si, obedecendo às leis que ele instituiu para si mesmo e isso ocorre através do pacto social. Essa liberdade política e social prova a validade das instituições e seu papel na busca pela felicidade e pelo bem-estar do homem sem ferir suscetibilidades, mantendo sua individualidade, ao passo em que o mantém integrado ao processo social e aos valores da vida pública. A noção de caráter, de pessoa toma, então, um rumo importante no pensamento rousseaniano, que se recusa a separar política, sociedade e moral, analisando os fatores que separam o indivíduo de sua felicidade e autonomia e da degradação social do homem, podendo este desenvolver pensamentos em vista de um processo de cidadania, recuperando, em uma evolução sócio-educacional, recuperar a sua liberdade, a sua individualidade, crescendo dentro de uma sociedade natural, justa, adequada para conduzi-lo à felicidade, conservando sua natureza e sua origem.

             Obras de Rousseau

    • Dicionário de Música,
    • A nova Heloísa,
    • Confissões,
    • Discurso sobre as ciências e as artes,
    • Discurso sobre as origens e fundamentos da desigualdade entre os homens,
    • Emílio,
    • O Contrato social,
    • Diálogos de Rousseau, juiz de Jean-Jacques,
    • Considerações sobre o governo da Polônia,
    • Devaneios de um caminhante solitário.








Prof. Marcelo Monteiro

sábado, 30 de outubro de 2010

O despertar Laura


Laura



título original:Laura (Laura – 1944)
direção: Otto Preminger
roteiro:Jay Dratler, Samuel Hoffenstein e Elizabeth Reinhardt, baseado em livro de Vera Caspary
música:David Raksin
fotografia:Joseph LaShelle
figurino:BonnieCashin


 O detetive Mark McPherson (Dana Andrews)Ao investigar a morte da diretora de uma agência de moda Laura Hunt (Gene Tierney), com o rosto destruído por tiros de espingarda, passa a interrogar Waldo Lydecker (Clifton Webb), jornalista e jmentor de Laura, a quem considerava sua criação, por quem, apesar de homossexual, era apaixonado ou, nutria uma estranha fixação. Noiva de Laura estava noiva de Shelby Carpenter (Vincent Price), um playboy, para desgosto de Lydecker e da rica tia de Laura, Ann Treadwell (Judith Anderson), apaixonada por Carpenter. Em um detalhe mórbido deste filme noir, o McPherson se apaixona por Laura, acreditando estar ela morta, algo que se torna explícito em sua contemplação à pintura de Laura, no apartamento da mesma. Mas, Laura se revela, viva e mais bela que antes, com Gene Tierney se mostrando mais devastadora, bela, clássica e sensual, no auge de sua beleza.A cena final, da descoberta da culpa do jornalista, com a ação do detetive, causam o clímax esperado deste filme preciso, irônico, com um tom de mistério, de Otto Preminger.diretor de um filme preciso, com diálogos inteligentes, marcado, como em regra, nos filmes noir, por uma fotografia e por uma música de primeira grandeza, pautado por um roteiro intrigante, pleno de reviravoltas, e marcado por um elenco de primeira, uma bela e talentosa atriz (Gene Tierney), um ator convincente (Dana Andrews), Vincent Price como um playboy convincente e Clifton Webb, que segura os diálogos do filme, com ironia, sarcasmo e um humor cáustico, Laura é um dos pontos fortes do cinema noir, levados à tona por um diretor que dominava a arte de prender o espectador nascadeiras verdes do cinema   

Prof. Marcelo Monteiro




Lado a Lado com o Pecado

Ao Lado do Pecado

Título Original: The Seven Year Itch       
Direção: Billy Wilder
Produção: Charles K. Feldman, Billy Wilder
Roteiro:  Billy Wilder, George Axelrod
Fotografia: Milton R. Krasner
Música: Alfred Newman

Elenco

  Marilyn Monroe .... a garota
 Tom Ewell .... Richard Sherman
Evelyn Keyes .... Helen Sherman
 Sonny Tufts .... Tom MacKenzie
 Robert Strauss as Kruhulik
 Oscar Homolka .... Dr. Brubaker
 Marguerite Chapman .... Miss Morris
Donald MacBride .... Mr. Brady
 Victor Moore .... the Plumber
Carolyn Jones ....
Miss Finch
• Doro Merande .... garçonete no restaurante vegetariano

 
Ao ficar sozinho, em  casa, após viagem da esposa e do filho paraMaine, Richard Sherman (Tom Ewell) sonha em se soltar e aproveitar a vida, mas sente-se preso à sua esposa, mas, sente-se atraído por uma nova vizinha que arrebata os corações e mentes de todos que, como Marilyn disse uma vez, a Grouxo Marx, nã sabia porque a perseguiam com o olhar. é baseada na Broadway farsa impertinente de George Axelrod, que fala de homem casado é uma indiscrição, durante um quente de julho em Nova York, enquanto sua esposa e filho estão fora O filme, baseado na peça de George Axelrod, criou uma célebre cena, de Marilyn tendo sua saia esvoaçando ao passo do vento das galerias subterrâneas do metrô, em uma cena gravada após 40 tomadas,

•  
O Pecado Mora ao Lado é uma comédia fina, levada com sutileza e graça por Billy Wilder, com um roteiro inteligente e sensual. Eweel retoma seu papel na Broadway e revela ao espectador uma imaginação fértil, em que se imagina com um magnetismo natural, que seduz as mulheres,e se encanta com a beleza animal de sua vizinha, doce, inofensiva, um furacão de sensualidade, tomando champanhe, por ser chic, arrebentando em um figurino escolhido a dedo, guardando sua calcinha na geladeira,mostra-se completamente irresistível, como era natural em suas aparições nas telas. R Não há imagem mais forte no cinema americano de Marilyn, o vestido branco esvoaçante cabeçada na brisa de uma grade de metrô de Manhattan.  Ela se revela luminosa, dentro de uma eterna máquina do tempo luminosa nessa cápsula do tempo, em que Wilder e Axelro dobraram a censura da época, inclusive, deixando solta no ar a possibilidade de ter havido algo mais entre os personagens centrais, ou se amulher não passva de fruto da fértil imaginação de Sherman - na peça da Broadway, eles chegam às vias de fato.
O texto é serve de pano de fundo para o filme de Wilder, com diálogos marcado por trocadilhos, piadas e paródias, centrado em uma heroína sem  nome, enquadrando-se em um símbolo, uma marca de sensualidade revelada a cada aparição da atriz. Dialogue was padded with outrageous puns, gags and parodies. When asked why the heroine didn't have a name, Axelrod said, "The truth of the matter is that I could never think of a name for her that seemed exactly right, that really fit the girl I had in mind."
O filme se desenvolve em meio a um calor insuportável, inutilmente, amenizado por um ar condicionado e por uma balde de gelos que se torna ínfimo em virtude do calor liberdade por cada cena, por cada tomada, por cada aparição de Marilyn. A coceira de Richard é uma erupção sexual desencadeada pela sua vizinha, em um filme que se revela em um personagem paranóico, neurótico. "O Pecado Mora ao Lado" é um olhar divertido para um homem que luta contra a tentação, que existe, ao menos em seu imaginário, de uma vizinha arrebatadora, que traz à tona a crise, ou coceira dos, sete anos de casamento, com um Richard Ewell, um notório ator cômico da Broadway, dos anos 50, e Marilyn Monroe, sinônimo de sensualidade, no cinema de todos os tempos, dão o tom dessa comédia de Wilder,   lutas com a tentação, a tentação de ser uma atriz sedutora, Marilyn Monroe, que se mudou para o apartamento no andar de cima para o verão de 1955., com uma direção inspirada, divertida e marcante na história do cinema.
Prof. Marcelo Monteiro








                             Remorso
Às vezes, uma dor me desespera...
Nestas ânsias e dúvidas em que ando.
Cismo e padeço, neste outono, quando
Calculo o que perdi na primavera.

Versos e amores sufoquei calando,
Sem os gozar numa explosão sincera...
Ah! Mais cem vidas! com que ardor quisera
Mais viver, mais penar e amar cantando!

Sinto o que desperdicei na juventude;
Choro, neste começo de velhice,
Mártir da hipocrisia ou da virtude,

Os beijos que não tive por tolice,
Por timidez o que sofrer não pude,
E por pudor os versos que não disse!

Um Poema de Ricardo Reis/Pessoa

Acima da verdade
Acima da verdade estão os deuses.
A nossa ciência é uma falhada cópia
Da certeza com que eles
Sabem que há o Universo.
Tudo é tudo, e mais alto estão os deuses,
Não pertence à ciência conhecê-los,
Mas adorar devemos
Seus vultos como às flores,
Porque visíveis à nossa alta vista,
São tão reais como reais as flores
E no calmo Olimpo são outra natureza

Um Poema de Alvaro de Campos - Pessoa

Apontamento
A minha alma partiu-se como um vaso vazio.
Caiu pela escada excessivamente abaixo.
Caiu das mãos da criada descuidada.
Caiu, fez-se em mais pedaços do que havia loiça no vaso.
Asneira? Impossível? Sei lá!
Tenho mais sensações do que tinha quando me sentia eu.
Sou um espalhamento de cacos sobre um capacho por sacudir.
Fiz barulho na queda como um vaso que se partia.
Os deuses que há debruçam-se do parapeito da escada.
E fitam os cacos que a criada deles fez de mim.
Não se zanguem com ela.
São tolerantes com ela.
O que era eu um vaso vazio?
Olham os cacos absurdamente conscientes,
Mas conscientes de si mesmos, não conscientes deles.
Olham e sorriem.
Sorriem tolerantes à criada involuntária.
Alastra a grande escadaria atapetada de estrelas.
Um caco brilha, virado do exterior lustroso, entre os astros.
A minha obra? A minha alma principal? A minha vida?
Um caco.
E os deuses olham-no especialmente pois não sabem por que ficou ali

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Um Poema de Pessoa/Alberto Caeiro

Da Minha Aldeia (de O Guardador de Rebanhos)


          Da minha aldeia veio quanto da terra se pode ver no Universo...
          Por isso a minha aldeia é tão grande como outra terra qualquer
          Porque eu sou do tamanho do que vejo
          E não, do tamanho da minha altura...
          Nas cidades a vida é mais pequena
          Que aqui na minha casa no cimo deste outeiro.
          Na cidade as grandes casas fecham a vista à chave,
           Escondem o horizonte, empurram o nosso olhar para longe
           de todo o céu,
                                                       Tornam-nos pequenos porque nos tiram o que os nossos olhos
                                                       nos podem dar,
                                                       E tornam-nos pobres porque a nossa única riqueza é ver
                       .

 

A Vida é Breve

Escrita entre os anos 63 a 65 a.C, as cartas de Sêneca a Lucílio, compiladas na obra “Aprendendo a Viver: Cartas a Lucílio”, constituem uma das obras-primas do filósofo latino. Ao todo, compreendem um total de 124 textos e se pauta na defesa constante das idéias estóicas  que visam à renúncia dos bens materiais, da busca da tranquilidade do espírito e do corpo, em uma busca incessante do conhecimento e da contemplação. Ao escrever seus textos, Sêneca toma como base o sentido epicurista da vida, em que sabedoria e virtude são os preceitos morais que regem a existência humana, levando o homem a descobrir uma vida moral, um bem imortal que lhe foi concedido, tornandno-se livre, no momento em que, sabiamente, toma descobre o sentido de sua vida e se torna o condutor da mesma.
Todos os bens dos mortais são mortais, o verdadeiro bem não desaparece; certo e duradouro, consiste na sabedoria e na virtude, sendo a única coisa imortal que cabe aos mortais” (Da Fugacidade da Fortuna)
Nesta obra, Sêneca prega uma forma correta de viver a vida, tomando como base valores e princípios como étical, moral, espiritual, física, sem abrir mão da lógica do ser humano, alcançando a condição de uma ataraxia, uma alma distante da perturbação. Essa condição imperturbável da alma permite, nos conceitos trabalhados nas cartas de Sêneca, a aplicação do conhecimento de sua filosofia à vida prática, revelando, no cumprimento da vida pública, mais que uma virtude, uma obrigação do homem de seu tempo.
Nessa praticidade, Sêneca, apesar de levar uma vida cômoda finaceiramente, vivia de forma moderada e modesta, como afirma em suas cartas: “O sábio não estava obrigado à pobreza, desde que o seu dinheiro tivesse sido ganho de forma honesta.” (Da Felicidade), vendo-se, no entanto, como um sábio imperfeito: "Eu elogio a vida, não a que levo, mas aquela que sei dever ser vivida.". (Da Brevidade da Vida)
Assim, Sêneca pregava a idéia de que os bens podem e devem ser adquiridos, não permitindo, no entanto, que se tornem a meta principal na vida de um homem, além de pregar que a velhice e a morte são condições naturais que devem ser aceitas com naturalidade pelo homem.
Erras, se pensas que  apenas na navegação a vida se distancia pouco da morte: em toso o lugar essa distãncia é tênue. A morte não se mostra em todos os lugares, mas em todos os lugares ela está próxima” (Da Brevidade da Vida)
Para isso, Sêneca, ao falar sobre a brevidade do tempo, ressalta que o homem deve estar concentrado para absorver e refletir sem dificuldades em seu eterno aprendizado, pois aprender a  viver, bem como descobrir os caminhos das artes, exige uma vida inteira, valorizando o tempo, tão curto e, por muitos negligenciado.
Então, caro Lucílio, procura fazer aquilo que me escreves: aproveita todas as horas ; serás menos dependente do amanhã, se te lançares ao prsente. Enquanto adiamos, a vida se vai. Todas as coisas, Lucílio, são-nos alheias, só o tempo é nosso” (Da Economia do Tëmpo)
Além disso, Sêneca prega, em uma das cartas, que que só tem domínio de si aquele que não faz de seu corpo um peregrinador por outros corpos, enfatizando, em uma prosa coloquial, precisa, retórica e declamatória, abusando de frases curtas e metáforas conclusões decisivas sobre a maneira de viver estóica, livre, construtiva e, sobretudo, voltada à evolução e à tranquilidade da alma, base da felicidade e do desenvolvimento do homem. (Prof Marcelo Monteiro)

Ah...a poesia, a pretensa poesia que cabe em cada um de nós

Saara
Em meio ao deserto de minha solidão,
Cai o Sol sobre o coração tardio
E os olhos cansados e inertes
Ao amor
A natureza infinita e vazia
Percebe que apenas um homem
Contempla seu ocaso perdido
E o vento renova seu canto
A revelar, em movimentos ternos,
O vulto perdido, breve, leve
A pisar a imensidão do horizonte,
A quem o Universo confessa
A solidão eterna do homem
Que o contempla (anjinho)

Outro Poema

Fotografia

Inerte,
Preso ao passado das paredes,
Das escadas,
Dos degraus,
Do revelar dos negros
Sem destino
Lágrimas choradas, ao entardecer
O retrato,
Claro escuro de uma vida
Perdida, esquecida
Preso ao canto das paredes,
Livre do canto dos homens
Presente, todas as manhãs,
Em meu triste cotidiano
despertar (anjinho)

Um Poema de Baudelaire

La Beauté (Les fleurs du mal)

Je suis belle, ô mortels! comme un rêve de pierre,
Et mon sein, où chacun s'est meurtri tour à tour,
Est fait pour inspirer au poète un amour
Eternel et muet ainsi que la matière.
Je trône dans l'azur comme un sphinx incompris;
J'unis un coeur de neige à la blancheur des cygnes;
Je hais le mouvement qui déplace les lignes,
Et jamais je ne pleure et jamais je ne ris.
Les poètes, devant mes grandes attitudes,
Que j'ai l'air d'emprunter aux plus fiers monuments,
Consumeront leurs jours en d'austères études;

Car j'ai, pour fasciner ces dociles amants,
De purs miroirs qui font toutes choses plus belles:
Mes yeux, mes larges yeux aux clartés éternelles!








A Beleza (As Flores do Mal)De um sonho escultural tenho a beleza rara,
E o meu seio, — jardim onde cultivo a dor,
Faz despertar no Poeta um vivo e intenso amor,
Com a eterna mudez do marmor' de Carrara

Sou esfinge subtil no Azul a dominar,
Da brancura do cisne e com a neve fria;
Detesto o movimento, e estremeço a harmonia;
Nunca soube o que é rir, nem sei o que é chorar.

O Poeta, se me vê nas atitudes fátuas
Que pareço copiar das mais nobres estátuas,
Consome noite e dia em estudos ingentes..

Tenho, p'ra fascinar o meu dócil amante,
Espelhos de cristal, que tornaram deslumbrante
A própria imperfeição: — os meus olhos ardentes!









Um Poema de Arthur Rimbaud

LA AURORE
(de: Les Illuminations)

   Abracé a la aurora del verano.
   Nada se movía aún en la faz de los palacios. El
Agua estaba muerta. Los campos de sombras
No abandonaban el camino del bosque. Anduve, y despertaron
Los hálitos vivientes y tibios, y las piedras preciosas
miraron, y las alas se alzaron din ruido.
   La primera aventura fue, en el sendero ya henchido
de frescos y pálidos destellos, una flor que me dijo
Su nombre.
   Reí al salto de agua rubio que se desgreñó
A través de los abetos: en la cima plateada reconocí
a la diosa.
   Entonces retiré uno a uno los velos. En el camino,
Agitando los brazos. A través de la llanura, donde
la denuncié al gallo. En la gran ciudad, ella huía
entre los campanarios. Y las cúpulas, y yo la perseguí
corriendo como un mendigo sobre los muelles
de mármol.
   En lo alto del camino, cerca de un bosque
De laureles, la rodeé con sus velos amontonados y sentí
Algo de su inmenso cuerpo. L aurora y el niño cayeron
Al pie del bosque.
   Al despertar era mediodía.



































AURORA - XXII
(de: As iluminações)
Abracei a aurora do verão.
Nada ainda se movia à frente dos palácios. A água estava morta. Os acampamentos de sombra não abandonavam o caminho do bosque. Andei, despertando os sopros vivos e tépidos, e as pedrarias olharam, e as asas se levantaram sem ruído.
O primeiro objetivo foi, na vereda já cheia de lívidos e recentes lampejos, uma flor que me disse seu nome.
Eu ri diante da fulva queda d'água que se desgrenhava através
dos abetos: no cimo prateado, reconheci a deusa.
Então, eu levantava os véus, um a um. Na alameda, agitando os braços. Pela planície, onde mostrei-a para o gato. Na grande cidade, ela fugia entre as cúpulas e campanários, e, correndo como um mendigo sobre as plataformas de mármore, eu a perseguia.
No alto do caminho, perto de um bosque de loureiros. envolvi-a com seus véus amontoados e senti um pouco seu corpo imenso. A aurora e a criança tombaram no bosque.
No despertar, era meio-dia.


quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Vertigem

Um Corpo que Cai (Vertigo - 1958)


Um Corpo que Cai, uma das obras-primas de Alfred Hitchcock,
revela diversos, se não todos, os elementos necessários e utilizados pelo mestre do suspense, um roteiro, escrito por  Alec Coppel e Samuel A. Taylor, foi baseada no livro "D'entre les morts", escrito em 1954 por Pierre Boileau e Thomas Narcejac. A trama é bastante complexa e Hitchcock consegue dosar, de forma irretocável, o seu costumeiro suspense com um comovente romance. James Stewart está irretocável no papel de Scottie.  Kim Novak está mais linda do que nunca e mais convincente, ainda, em  seus três personagens, a verdadeira Madeleine, o de Judy Barton e o de Judy fazendo-se passar por Madeleine. A história gira em torno de um ex-detetive da polícia, John Scottie Ferguson (James Stewart) que se aposentou após um acidente por consequência de sua vertigem John Scottie Ferguson (James Stewart) é contratado por Gavin Elster (Tom Helmore) para vigiar sua esposa (Kim Novak), pois acredita que ela tem alguns problemas psicológicos e tendências suicidas. No entanto, a paixão inevitável entre os dois personagens surge e causa uma reviravolta na trama. A trilha sonora de Bernard Herrmann e a fotografia de Robert Burks enfatizam a tensão, nas cenas mais marcantes do filme, construído em um roteiro coeso, com idéias complexas, com uma, sempre, convincente, atuação de James Stewart e com Kim Novak provando seu talento, em dois papéis distintos, além de Barbara Bel Geddes na pele de Midge, Tom Helmore, na pele de Gavin Ester, ambos determinantes na trama. Um Corpo que Cai é mais que uma história de detetive, pois mergulha no inconsciente das personagens, em suas memórias, em seus medos, em suas frustrações, em um filme surpreendente, psicológico, tenso e arrebatador. Em "Vertigo", o diretor divide a trama em duas histórias, indo do caráter sobrenatural e intimista e a vis]ao real do detetive que busca descobrir a verdade sobre a vítima e a sua paixão. A sequência de zooms e afastamento da câmera, que dá ao público a sensação de vertigem sentida pelo personagem de James Stewart, revelando um estudo minucioso dos personagens e uma ênfase ao suspense, em cada cena, em cada tomada deste filme marcante que simboliza a obra de Hitchcock.







direção: Alfred Hitchcock
roteiro:Samuel A. Taylor e Alec Coppel, baseado em livro de Pierre Boileau e Thomas Narcejac
produção:Alfred Hitchcock
música:Bernard Herrmann
fotografia:Robert Burks
direção de arte:Henry Bumstead e Hal Pereira
figurino:Edith Head

Elenco

James Stewart: John ‘ Scottie’ Ferguson,
Kim Novak: Madekleine Elster/Judy Barton
Barbara Bel Gedds: Midged Wood
Tom Hlmore: Gavin Elster
Henry Jones: Coroner
Raymond Bailey: Scottie´s Doctor
Ellen Corby: Manager of Kittrick Hotel




Prof. Marcelo Monteiro

Um Poema de Neruda

Fábula de la sirena y los borrachos

Todos estos señores estaban dentro
cuando ella entró completamente desnuda
ellos habían bebido y comenzaron a escupirla
ella no entendía nada recién salía del rio
era una sirena que se había extraviado
los insultos corrían sobre su carne lisa
la inmundicia cubrió sus pechos de oro
ella no sabía llorar por eso no lloraba
no sabía vestirse por eso no se vestía
la tatuaron con cigarrillos y con corchos quemados
y reían hasta caer al suelo de la taberna
ella no hablaba porque no sabía hablar
sus ojos eran color de amor distante
sus brazos construídos de topacios gemelos
sus labios se cortaron en la luz del coral
y de pronto salió por esa puerta
apenas entro al rio quedó limpia
relució como una piedra blanca en la lluvia
y sin mirar atrás nadó de nuevo
nadó hacia nunca más hacia morir (Pablo neruda)

Fábula da Sereia e os Bêbados

Todos estes senhores estavam em
cuando ella entró completamente desnuda quando ela foi completamente nua
ellos habían bebido y comenzaron a escupirla eles tinham bebido e começou a cuspir
ella no entendía nada recién salía del rio Ela não sabia nada do rio apenas
era una sirena que se había extraviado era uma sereia que tinha perdido
los insultos corrían sobre su carne lisa insultos em sua carne bom funcionamento
la inmundicia cubrió sus pechos de oro sujeira cobrindo seus peitos de ouro
ella no sabía llorar por eso no lloraba ela não sabia por que ela não chorar choram
no sabía vestirse por eso no se vestía curativo não sabia por que não vestir
la tatuaron con cigarrillos y con corchos quemados o tatuado com cigarros e cortiça queimada
y reían hasta caer al suelo de la taberna e riu até que ele caiu no chão da taverna
ella no hablaba porque no sabía hablar ela não falou, porque ele não podia falar
sus ojos eran color de amor distante Seus olhos eram da cor do amor distante
sus brazos construídos de topacios gemelos topázio gêmeos armas construídas
sus labios se cortaron en la luz del coral seus lábios foram cortados em função dos corais
y de pronto salió por esa puerta e de repente saiu por aquela porta
apenas entro al rio quedó limpia Ao entrar no rio era limpo
relució como una piedra blanca en la lluvia brilhava como uma pedra branca na chuva
y sin mirar atrás nadó de nuevo nadaram sem olhar para trás novamente
nadó hacia nunca más hacia morir. nunca nadou em direção à morte. (Pablo Neruda)


quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Um poema de Bandeira


O último poema
Manuel Bandeira
Assim eu quereria meu último poema
Que fosse terno dizendo as coisas mais simples e menos intencionais
Que fosse ardente como um soluço sem lágrimas
Que tivesse a beleza das flores quase sem perfume
A pureza da chama em que se consomem os diamantes mais límpidos
A paixão dos suicidas que se matam sem explicação.

Um poema de Quintana

Eu escrevi um poema triste
E belo, apenas da sua tristeza.
Não vem de ti essa tristeza
Mas das mudanças do Tempo,
Que ora nos traz esperanças
Ora nos dá incerteza...
Nem importa, ao velho Tempo,
Que sejas
fiel ou infiel...
Eu fico, junto à correnteza,
Olhando as horas tão breves...
E das cartas que me escreves
Faço barcos de papel!

Um poema de Drummond

Os ombros suportam o mundo
Chega um tempo em que não se diz mais: meu Deus.
Tempo de absoluta depuração.
Tempo em que não se diz mais: meu amor.
Porque o amor resultou inútil.
E os olhos não choram.
E as mãos tecem apenas o rude trabalho.

E o coração está seco.

Em vão mulheres batem à porta, não abrirás.
Ficaste sozinho, a luz apagou-se,
mas na sombra teus olhos resplandecem enormes.
És todo certeza, já não sabes sofrer.
E nada esperas de teus amigos.

Pouco importa venha a velhice, que é a velhice?
Teus ombros suportam o mundo
e ele não pesa mais que a mão de uma criança.
As guerras, as fomes, as discussões dentro dos edifícios
provam apenas que a vida prossegue
e nem todos se libertaram ainda.
Alguns, achando bárbaro o espetáculo
prefeririam (os delicados) morrer.
Chegou um tempo em que não adianta morrer.
Chegou um tempo que a vida é uma ordem.
A vida apenas, sem mistificação.

Ol' man river

Um Poema

Um poema,
A poesia desejada, mágica, utópica,
Verdadeira e imortal,
Fatal e vazia,
Bela e eterna,
Dentro de uma superioridade desconhecida,
Que nos faz chorar,
Que nos faz sorrir,
Que nos faz sentir,
Consumidos pelos sonhos,
Pelas palavras,
No primeiro degrau de nossos dias,
À beira do olhar de Deus. (anjinho)

Visões

Visões Sombrias de Outono
Sob o calor das lâmpadas,
Surge, por entre as paredes,
Um rosto de mulher,
Preciso belo, maduro,
Olhos inertes a brilhar,
Por toda a extensão do universo,
Da sala de estar,
As mãos delicadas e ternas,
Um rosto vivo e límpido,
Uma boca ardente,
Sorriu um sorriso estranho,
Procurei algo para me defender
De tamanha aparição,
Mas surgiu um vulto,
Um novo personagem de sonho,
E um passaro inesperado
Veio até a janela
Observar a cena, que se apagava,
Lentamente,
De minha memória (anjinho)

Um Olhar sobre Rastros de Ódio



 Rastros de Ódio

Rastros de Ódio (The Searchers - 1956), obra prima de John Ford, é um western que flui sob os diversos elementos do diretor, misturando ação, ritmo, aventura, emoção, em um cenáro típico, o Monument Valley, personagens fortes e a figura marcante de John Wayne, na pele do soldado sulista, Ethan Edwards, após a derrota do Sul, na Guerra Civil norte-americana. Um homem que sente suas raízes perdidas, após a derrota dos Confederados e busca por honra, orgulho, valores que lhe fogem, novamente, após o massacre da família de seu irmão e o sequestro de suas sobrinhas por parte dos índios.A busca pela  jovem Debbie (Nathalie Wood), revela o ódio nutrido pelos índios e a perseverança de Ethan e de seu companheiro Martin (Jefffrey Hunter) que, nos rastros da jovem, dão o tom do filme, duro, marcado por espaços abertos, relações fortes entre os pioneiros, esperança inquebrantavel e a visão fordiana de que tudo se reflete na construção de uma nação forte e implacável. A determinação e a coragem dos personagens são símbolos deste filme que, como uma obra prima literária, abre suas capas, ou as portas do rancho, ao vislumbrar a figura de Ethan, e as fecha, ao seu final, revelando o andar solitário de um homem que se perde no mundo da individualidade e da solidão.
Direção: John Ford
cartaz de Rastros de Ódio Roteiro: Alain Le May e Frank S. Nuggent

Elenco:
  • John Wayne...Ethan Edwards;
  • Jeffrey Hunter...Martin Pawley
  • Vera Miles...Laurie Jorgensen
  • Ward Bond...Rev. Capt. Samuel Johnston Clayton
  • Natalie Wood...Debbie Edwards (crescida)
  • John Qualen...Lars Jorgensen
  • Olive Carey...Mrs. Jorgensen
  • Henry Brandon...Chefe Cicatrice (Scar)
  • Ken Curtis...Charlie McCorry
  • Harry Carey, Jr...Brad Jorgensen.
  • Antonio Moreno...Emilio Figueroa
  • Hank Worden...Mose Harper
  • Beulah Archuletta...Wild Goose Flying