Laura

Laura

quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Crepúsculo

Crepúsculo (Marcelo Monteiro)
A escuridão dos metais sombrios da noite,
Os pássaros noturnos assustadores,
Em céus cortando o silêncio da escuridão,
Sobre um ambiente fantasmagórico
Seu olhar glacial,
Rompe pragas eternas
Que lanço sobre seu destino,
De meu destino solitário
Neste universo desigual,
Segredos ceifam as vidas mais breves,
Salas mudas causam medo
Em quem tem o passado a lhe perseguir
Entre pedras e caminhos,
Entre igrejas e hospitais,
Entre sangue e inocência,
Velas acesas soltas no canal
Iluminam os destinos cegos
Que, em vão, tentamos mudar
(anjinho)

Memórias

Memórias (Marcelo Monteiro)
            
A luz empalideceu e fez surgir,
Entre corpos e almas,
No meio de copos e uísque barato,
A visão sufocante e bela
Da mulher de olhos azuis,
De veias azuis,
A mulher de cabelos dourados,
De anéis dourados
E de ares misteriosos do passado
A mulher que me exige um beijo de adeus,
Um beijo de eternidade
Uma mulher de dedos vivos e quentes.
E olhos frios como o vento
Que corta o cenário
Que varre as lembranças da sala
E que areja o quarto escuro
Onde me escondo das memórias
E finjo, sempre,
Dormir.
(anjinho)

A Sentença, de Ernest Stadler

A Sentença (Der Spruch-1914) - Ernest Stadler

A palavra, de
Em um velho livro,
topei com uma palavra
que me veio como um golpe e,ainda,arde em brasa
e, quando me entrego a um turvo prazer,
preferindo brilho, mentira e jogo,
em vez do puro ser,
quando acho melhor com supérfluo me enganar,
como se fosse claro, o escuro,
como se a vida não tivesse
milhares de portas a fechar,
e repito palavras cuja
amplidão nunca senti
e toco em coisas de cujo sentido jamais revolvi
qunado um sonho bem-vindo
acaricia-me com mãos de veludo,
aliviando-me do cotidiano,
sobretudo,
longe do mundo alheio
ao mais profundo eu,
então, ergue-se em mim, a palavra:
homem, procura o teu apogeu!

La beauté – Charles Baudelaire

La beauté – Charles Baudelaire
Je suis belle, à mortels! comme un rêve de pierre,
Et mon sein, où chacun s’est meurtri tour à tour,
Est fait pour inspirer au poète un amour
Éternel et muet ainsi que la matière.
Je trône dans l’azur comme un sphinx incompris ;
J’unis un coeur de neige à la blancheur des cygnes ;
Je hais le mouvement qui déplace les lignes,
Et jamais je ne pleure et jamais je ne ris.
Les poètes, devant mes grandes attitudes,
Que j’ai l’air d’emprunter aux plus fiers monuments,
Consumeront leurs jours en d’austères études ;
Car j’ai, pour fasciner ces dociles amants,
De purs miroirs qui font toutes choses plus belles :
Mes yeux, mes larges yeux aux clartés éternelles !
(Les Fleurs du Mal)
A BELEZA – Charles Baudelaire
Eu sou bela, ó mortais! Como um sonho de pedra,
E meu seio, onde todos vêm buscar a dor,
É feito para ao poeta inspirar esse amor
Mudo e eterno que no ermo da matéria medra.
No azul, qual uma esfinge, eu reino indecifrada;
Conjugo o alvor do cisne a um coração de neve;
Odeio o movimento e a linha que o descreve,
E nunca choro nem jamais sorrio a nada.
Os poetas, diante de meus gestos de eloqüência,
Aos das estátuas mais altivas semelhantes,
Terminarão seus dias sob o pó da ciência;
Pois que disponho, para tais dóceis amantes,
De um puro espelho que idealiza a realidade:
O olhar, meu largo olhar de eterna claridade!

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Silêncio

Palavras fogem de minha visão,
luzes se formam, no horizonte
de seus olhos,
dramas, tragédias, amores vãos,
sombras circulam, sob os edifícios,
e eu grito,
no oitavo andar,
as portas dos elevadores se calam
Rostos se fecham
à palavra amor
saudades coloridas mudam
o tom negro dos dias solitários,
bares se fecham,
garrafas se fecham,
bocas se fecham
abre-se o amanhã de uma eterna paixão
as portas dos elevadores se fecham (anjinho)

À que vem ao amanhecer

Ares noturnos calam
nunca os sonhos mais doces
almas sutis se elevam
ao luar terno e calmo
ungido do olhar
mais claro, belo e verdadeiro
infinito na sua imagem,
animado nas cores de seu nome,
ferido no universo
dos olhos seus
Negros, à noite,
secretos,
encantados,
nas carícias mais leves,
além de seu olhar (anjinho)

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Um poema de Keats


Bright Star
Bright star, would I were steadfast as thou art - Bright star, would I Were the steadfast thou art -
Not in lone splendour hung aloft the night Not in lone splendor hung aloft the night
And watching, with eternal lids apart, And watching, with eternal lids apart,
Like Nature's patient, sleepless Eremite, Like Nature's patient, sleepless Hermit
The moving waters at their priestlike task The moving waters at priestlike Their task
Of pure ablution round earth's human shores, Of pure ablution round earth's human shores,
Or gazing on the new soft-fallen mask Or gazing on the new soft-fallen mask
Of snow upon the mountains and the moors - Of snow upon the mountains and the moors -
No - yet still stedfast, still unchangeable, No - yet still stedfast, still unchangeable,
Pillow'd upon my fair love's ripening breast, Pillow'd upon my fair love's ripening breast,
To feel for ever its soft fall and swell, To feel for ever soft fall and swell ITS,
Awake for ever in a sweet unrest, Awake for ever in a sweet unrest,
Still, still to hear her tender-taken breath, Still, still to hear her tender-taken breath,
And so live ever - or else swoon to death. And so live ever - or else swoon to death.
1819 1819
Estrela Brilhante
Estrelas brilhantes, que eu estava firme como tu -
Não está em esplendor solitário pendurado no alto da noite
E olhando, com tampas eterna distante,
,Como paciente da Natureza, eremita sem dormir,
As águas que se deslocam na sua tarefa
De costas humanos terra redonda puro ablução, o
Ou olhar sobre a nova máscara caiu soft-
De neve sobre as montanhas e os mouros -
, Não - mas ainda firme, continua imutável,
sobre o peito de amadurecimento meu amor feira,
Para sentir para sempre a sua queda suave e inchar,
, Acordado para sempre em uma inquietação doce,
, Mesmo assim, ainda de ouvir a sua respiração concurso tomadas,
. E assim viver cada vez - ou então desmaio à morte.
1819 1819


quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

A Verdade em cada um de Nós

Canto a Mim Mesmo a Verdade do Mundo - Marcelo Monteiro
As verdades,
Se é que um dia existiram,
Surgem, nas mentes, no imaginário
Dos poetas,
Na solidão dos amantes desesperados,
Nos sonhos das mulheres mais pueris
Ah...o que pode haver
De mais claro e insano
Do que a verdade falada
Aos quatro ventos,
A perda de um amor,
A destruição de uma amizade,
O abandono de sua fé,
Em um segundo,
Desfalecem-me tais pensamentos
E uma gota de razão
Invade minha mente,
A verdade contida em meu coração
Dissipa-se e revela ao mundo
Toda a beleza de uma bela fala,
De uma palavra doce e terna,
De uma mentira que todos querem ouvir
Não acredito em verdades absolutas,
Eternas, aparentes,
Por serem aparentes e vazias
São apenas gotas em, minha face
Que se evaporam ao primeiro movimento da manhã
Mas, a verdade de um grande amor,
Como um grande amor
Revela-se sem palavras,
Com o reflexo do olhar
Lançado ao infinito,
Mesmo que seja tarde
Para construir uma mentira,
A verdade da alma se liberta
E se ramifica eternamente
Em todos os corações.  (anjinho)






Um poema de Walt Whitman

                         EIS O QUE CANTANDO NA PRIMAVERA

Eis o que cantando na primavera eu colho para os amantes
(pois quem senão eu entenderia amantes e toda a sua mágoa e alegria?
e quem senão eu seria o poeta dos camaradas?),
colhendo atravesso o jardim do mundo, mas logo passo pelos portões,
ora à margem do lago, ora me adentrando um pouco, sem temer a umidade,
ora junto à cerca de mourões onde as pedras ali jogadas, provenientes dos campos, se acumularam
(flores silvestres e parras e ervas brotam em meio às pedras e as cobrem parcialmente, por tudo isso eu passo),
longe, longe na mata, ou perambulando tarde no verão, antes de me perguntar para onde vou,
solitário, sentindo o cheio da terra, parando aqui e ali no silêncio,
sozinho eu pensara: mas logo uma tropa se reúne ao meu redor,
alguns caminham ao meu lado e alguns atrás, e alguns me tomam pelo braço ou pelos ombros,
eles – os espíritos dos amigos queridos, mortos ou vivos – se ajuntam mais, uma grande multidão, e eu no meio,
colhendo, distribuindo, cantando, lá eu caminho ao lado deles,
pegando como lembrança uma coisinha aqui e ali, jogando para quem estiver perto,
aqui, um lírio, com um ramo de pinheiro,
aqui, do meu bolso, um pouco de musgo que retirei de um carvalho que se vergava para o solo na Flórida,
aqui, folhas de louro e cravina, um punhado de sálvia,
e aqui o que eu retiro da água, passeando à margem do lago,
(oh, foi aqui que eu vi por último aquele que me ama ternamente e que retorna para jamais se separar de mim,
e este, este será para sempre o sinal dos camaradas, esta raiz de cálamo será,
troquem-no uns com os outros, ó jovens, e nunca o devolvam!),
e galhinhos de bordo, e um monte de laranjeiras silvestres e castanhas,
e ramos de groselha e o cheiro das ameixas e o cedro aromático,
tudo isso eu, cercado por uma multidão de espíritos,
vagueando, aponto ou toco quando passo, ou jogo a esmo a partir de mim,
indicando para cada um o que ele terá, dando alguma coisa a cada um;
mas o que retirei da água à margem do lago, isso eu reservo
e o hei de dar, mas somente àqueles que amam como eu mesmo sou capaz de amar.